Considerando a posição geográfica de minha residência, a qual situa-se no noroeste do Rio Grande do Sul, região das Missões, mirando o centro (ou
mesmo o norte ou sul) da Argentina e do Chile, ou pensando ainda tanto no Deserto
de Atacama, como nas Patagônias ou Tierras del Fuegos, chilenas ou argentinas, fica
muito fácil sair do Brasil, pela Província argentina de Corrientes. A aduana é
ágil e funciona integrada, em Santo Tomé. Junto dela funcionam também serviço
de encaminhamento de cartas verdes e casa de câmbio. Advirto, no entanto, o
câmbio que praticam é o oficial. Considerando que na Argentina, da mesma forma
que no Brasil, há um câmbio oficial e um paralelo, o oferecido na casa de câmbio
em comento não é muito favorável.
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Recentemente, em março de 2015, por motivo do encontro anual
que tenho com um grupo de motociclistas viajantes que integro, o C.U.B.A (a
sigla tem a ver com as iniciais dos países a que pertencem os seus integrantes,
no caso Chile, Uruguay, Brasil y Argentina e não, portanto, com a famosa ilha)
estive em mais uma oportunidade nos caminhos que ora destaco.
O destino, desta vez, seria o Valle del Maipo, região
metropolitana de Santiago-CH.
No caminho a conhecida, sempre bela e revisitada
região de Mendoza, na Argentina.
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Abordando a Argentina desde minha casa, saindo pela Província
de Corrientes, aduana como destaquei, em princípio, se oferecem duas
alternativas, em termos de estradas.
O que os mapas e sites, de regra, indicam: Santo Tomé, direção
a Federal, RN127; Paraná-Santa Fé (cruzando o túnel sub-fluvial); San
Francisco, Villa Maria, Rio Cuarto, Villa Mercedes, San Luis, La Paz, Santa
Rosa, San Martin a Mendoza. Creio que é o caminho mais curto (de Santo Tomé até
Mendoza, mais ou menos, uns 1550 km).
Mas, nos últimos anos, neste caminho, há um “pedágio”
desagradável. É que o pavimento nas cercanias de Federal, há anos, tem estado
muito ruim. Das últimas três vezes que passei por alí verifiquei que o asfalto,
realmente, estava bem detonado. Ano
passado quando fiz o encontro de CUBA, em São Miguel das Missões, amigos que
vinham do Chile acabaram amassando rodas de suas motos neste trecho (rodas de
liga). Então, optando por este tramo, há que se ter atenção redobrada no
caminho.
A par disso, outro fato; entre as cidades de San Francisco e
Rio Cuarto, há uma profusão de pequenos pueblos, sequências de “lomos de
burros” (nossas lombadas). A situação faz com que ritmo da viagem diminua, e
muito. E até aqui, honestamente, o visual ainda não é muito atrativo.
Assim que, nos últimos anos, para fugir deste itinerário,
tenho optado por seguir pela RN14, passando por Chajari (onde estão as Termas
de Chajari, um bom lugar para pernoitar e descansar), Federación, Concordia,
Villaguay, Nogoya, Victoria, Rosario, Casilda, Firmat, Venado Tuerto, La
Carleta até Rio Cuarto.
De Rio Cuarto para Mendoza, e para o paso fronterizo Los Libertadores, o caminho é o mesmo. Este trecho
que assinalo é um pouco mais longo. Mas o asfalto está melhor. E flui mais
pelos motivos assinalados.
Tirante estes “pedágios”, ou mesmo com estes “pedágios”, os
caminhos do destino são um espetáculo. Mendoza, afirmam com razão os entendidos, é um
oásis numa das regiões mais desérticas da Argentina. Evidencia-se esta
realidade ao caminharmos em suas ruas e constatar os canais que correm junto ao
meio fio, nas calçadas, onde há o escoamento das águas de degelo da cordilheira
e que irrigam a cidade.
A bela cidade, capital da província de mesmo nome, também
oferece um sem número de atrativos. A propósito, a Argentina tem pouco mais de
2.000 vinícolas. Destas, 1.200, pelo que ouvi, encontram-se na província de
Mendoza. Demais disso há, nas adjacências, ao alcance de uns 250/300 km, oportunidade
de belíssimos passeios em contato com a natureza (Termas de Cacheuta, San Rafael,
Cañol del Atuel, são alguns exemplos). E o principal, a majestosa Cordilheira
dos Andes nas cercanias.
Destaco, ainda, com ênfase, suas vinícolas e “aceituneras”. Para quem gosta de vinhos e de azeites de oliva, Maipú e Lujan de Cuyo, há mais ou menos uns, 18km, pode ser um pouco de paraíso. Há passeios guiados em vinícolas e em plantios de oliveiras. Nem todas as vinículas e azeitoneiras estão abertas a visitação, entretanto.
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Saindo de Mendoza, em direção a Santiago do Chile, a RN7
oferece mais belezas. De fato, por aqui encontram-se lindos caminhos. Visuais
de pré-cordilheira e cordilheira propriamente dita. No meio encontramos:
Potrerillos (belo vale de pré-cordilheira a uns 70km);
Uspallata (há mais ou menos 120 km);
Os Caracoles argentinos, a Puente del Inca e o Parque
Nacional Aconcágua (estes últimos localizados a uns 195/200 km);
Las Cuevas, e o monumento histórico binacional Cristo
Redentor (este para quem se aventurar em sair do asfalto e subir o belo caminho
de cornisa de aproximadamente 9km) encontram-se
a uns 205 km.
Após, em sequência, aduana chilena e a famosa Cuesta de Los Caracoles. Os famosos
caracoles chilenos.
Como se constata, em poucos quilômetros, para quem tem um
pouco de tempo, a região oferece, a par dos caminhos, da estrada que já é de
beleza inenarrável, um grande número de atrações. Para quem está pensando em ir
até Mendoza, pela beleza destes caminhos, eu diria: siga até a fronteira com o
Chile. Ainda que não vá fazer grandes recorridos pelas atrações das adjacências
que a região oferece, o caminho em sí, a RN7, nesta direção, já é um belíssimo passeio.
Paisagens espetaculares.
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Refrisando por ser belo...
Para se ter uma ideia, entre Mendoza, AR e Los Andes, CH, há pouco
mais de 260 km. 340 km para quem, realmente, quiser cruzar a Cordilheira e ir até
Santiago. Apesar da pouca distância, e de ter feito várias vezes este caminho,
eu não me canso dele. Costumo deixar um dia para fazer o trecho. Sem dúvida, se
Deus existe, ele foi pródigo no distribuir beleza por estes lados.
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Ainda no caminho – direção Chile – O TUNEL CRISTO REDENTOR.
PASO FRONTERIZO CRISTO REDENTOR
Praticamente junto a Las Cuevas, para aceder a Chile,
encontra-se o complexo fronteiriço “Los Libertadores” (aduanas integradas
de Argentina e Chile).
Há uma altitude de 3.209 m.s.n.m, e com um comprimento de
3.080m, sendo destes 1.564m pertencentes ao território chileno e 1.516m ao
argentino, encontra-se no limite da Argentina e Chile, o Túnel Cristo Redentor.
Muitas vezes a altitude do túnel oferece obstáculos a
travessia no inverno.
Isso porque não raras vezes o caminho é interditado pelas fortes
nevascas que são frequentes nesta época do ano na Cordilheira. No entanto,
devido ao grande fluxo comercial existente, mesmo com nevascas, na medida do
possível, a trafegabilidade é rapidamente restaurada. Não se pode confiar,
portanto, em travessia nestas épocas. Agora, inclusive, quando escrevo este
texto (julho de 2015), li relatos que, recentemente, o Paso este inabilitado
pelas nevascas, e por seis dias contínuos.
Argentina e Chile possuem mais de 5.000 quilômetros de
fronteira. A maior parte deles estão situados sobre a Cordilheira dos Andes. Debruçados
nestes quilômetros mais de 5.000 km, há mais de 40 pasos fronterizos. E, honestamente, tendo feito já alguns deles, e
lido outro tanto sobre outros que pretendo conhecer, é difícil dizer qual deles
é o mais lindo.
A despeito do túnel que enfoco agora (os quais, seguramente,
não estão dentre meus caminhos preferidos), apesar de reconhecer e aplaudir
esta e outras grandes obras de engenharia, pela importância, inclusive,
econômica, ao PASO FRONTERIZO LOS LIBERTADORES deve corresponder um lugar de grande
destaque.
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O destino final desta viagem, o Cajon del Maipo, no Chile,
fica para ser relatado em outra oportunidade. Merece capítulo a parte. E quando
eu, verdadeiramente, for conhecê-lo, de verdade. Desta vez, agora em março de
2015, fiquei adstrito a visita e ao encontro com os amigos do grupo de C.U.B.A.
“A viagem não acaba nunca...”