Boas Vindas !

Há alguns anos venho percorrendo, de moto, alguns caminhos. Em especial em nossa Linda América. Aqui tenho pequenos relatos, fragmentos destes passeios. Eles foram feitos com o intuito de preservar um pouco do que eu vi. Um pouco do que eu vivi.

Agora, com poucos cliques, revejo caminhos... Selvas, desertos, gêiseres, caminhos patagônicos, geleiras, lagos, canyons, entranhas da terra... relembro de ares gelados de madrugadas altiplânicas...

De tudo o mais importante: revejo olhares e relembro atitudes de gentes que serão para sempre parte de minha vida. Ao viajante que passar por aqui espero que goste.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

CHILE. CARRETERA AUSTRAL. AL SUR DEL SUR - Dias 27 a 29.02.2012


Dias 27 a 29. A “aventura continua. Uma vez que não vejo grandes atrativos na cidade de Puerto Montt, ela é um objetivo de viagem somente porque nela começa a Carretera Austral, neste dia saio em direção a Caleta Arena.
Caleta Arena está há mais ou menos 50 Km de Puerto Montt. É o local do primeiro transbordador com destino a Hornopiren. A Carretera, como sabem, é interrompida por águas do pacífico e retoma o seu caminho em sequência, até chegar a Villa O’Higgins. Neste trecho de 50 km há somente uns 08 a 10 km de rípio.
Chego em Caleta Arena, praticamente sem nada ver da Carretera.
A chuva permanece constante. Deve ser praga (risos) de um amigo, o Cicero Paes.
Este reconhecido motociclista viajante e escritor, inicialmente tentou vir para cá, caiu no caminho, retornou para casa. Posteriormente retomou o projeto e, pelo que sei, no retorno também não viu nada (conforme ele me falou e anotou em seu livro porque, também, fez o trecho, da mesma forma. Ou seja, abaixo de chuva).
Por tudo isto e mais, decido fazer o que o amigo chileno, o Juan me indicara.
Ou seja, retorno a Puerto Montt para dirigir-me, por terra, a Hornopirén. Vou bordeando o Lago Llanquihue. Está é a idéia. Como a tarde já vai adiantada, apesar da época, já está escurecendo em razão da chuva, resolvo sair no dia seguinte.
No dia seguinte nada mudou (a praga - risos - continua). Chuva e chuva e períodos de sol (ao contrário dos anos anteriores, o mês de fevereiro está sendo chuvoso de acordo com as informações dos “lugareños”). Não tenho vontade de sair do Torremolinos, hotel onde me encontro. Levanto tarde e saio tarde. Pretendo fazer os quilômetros que a chuva deixar, com muita calma. Começa a esfriar, vem um ventinho razoável e chego em Ensenada (pouco mais de 100 km) de Puerto Montt. Resolvo que vou curtir o passeio. Como frisa outro grande amigo, o Willian de Rio Grande, não tenho de provar nada a ninguém. Vou me proteger do frio e da chuva (se é que isto é possível na Carretera Austral).
Aporto no Hotel La Ensenada (o qual me informaram tem cento e nove anos de história, tematizado em razão da imigração alemã). Neste hotel uma das coisas boas da viagem: um excelente salmão acompanhado de um bom tinto para aquecer o corpo e curtir a saudade de casa (uma viagem, desta natureza, também é boa para vermos o quanto temos de bom em nossas vidas e em nossas casas).
Um parêntesis aqui. A ausência de pressa tem, também, um motivo especial. É a preocupação em razão do fato de que protestos no sul do Chile, que começaram em Puerto Aysen e que, conforme notícias veiculadas na televisão, vem recebendo paulatinamente adesão e apoio de toda a região austral, venha a inviabilizar a que percorra toda a Carretera. Ou o que é pior que me impeça de continuar a viagem pela falta noticiada de combustível na região (acho que a Argentina está contagiando o sul do Chile).
O dia seguinte amanhece. Como? Adivinhem? Com um barulho e tanto. De água.
O mesmo menu dos dias anteriores, chuva, chuva, sol. A gentil senhora da recepção do Hotel me dá uma “boa” notícia. De acordo com as previsões metereológicas a chuva permanece constante até o dia 06 de março. Protestos, chuva... Que fazer !?
Salir, despacito nomas. Enfrentar o frio e a chuva intercalado com um pouco de sol. Saio com uma “enorme” vontade (de ficar). Saio passado das quatro da tarde. Fui bordeando o Llago Llanquihue, e imaginando o Volcão Osorno ao lado (imaginava porque não dava para ver nada devido a chuva) e, assim, com este tempo, cheguei em Hornopirén. Infelizmente, não pude fazer fotos. Ainda bem. Imaginem a minha cara de assustado, num trecho de puro rípio: rípio novo (por cima de rípio “batido”). Uma verdadeira armadilha ! E para piorar as coisas, cargas e cargas de rípio na Carretera. E as patrolas aproveitando para criarem mais armadilhas para mim (esparramando mas rípio deixando uma pequena beira livre para passar). Um sufoco e tanto. Quem é motociclista pode imaginar que passei maus bocados, nestes trechos de rípio “fofo”, com os pneus dupla finalidade da “Ruivinha” (minha moto). Tenho de admitir, mesmo que estivesse com pneus adequados para o rípio eu sofreria igual. É que me falta muito para ser um piloto razoável no “fora de estrada”.
Por fim, cheguei em Hornopirén. Ao chegar fui logo ver se conseguia ticket (passagem) para o primeiro transbordador da manhã.
Objetivo: cruzar o estuário de Reloncaví e chegar a Caleta Puelche.
Claro que cheguei tarde. Conforme informações, o local de venda de passagens fechara a poucos minutos. Felizmente (para minha tranqüilidade) , em frente tem uma “oficina” de atendimento ao turista e, ali, fui informado que deveria vir, no dia seguinte, às 08h30min e que, para minha felicidade, seguramente eu teria lugar. Ocorre que, quase sempre tem lugar moto (quando se está sozinho). Para carro ele adiantou: !no hay lugar!
Nesta noite resolvi ficar em um “residencial”. Como o próprio nome sugere, são casas de família que hospedam viajantes. Havendo interesse há pensão completa.
Dia 29. Dia de acordar cedo. “Desayuno” (café da manhã) a las 07h30min. Após vou para o local onde atracam os chamados transbordadores. Após a tranqüilidade de estar com os tickets nas mãos, vejo que terei companhia de motociclistas. Constato, oportunamente, uma vez que percorremos um bom trecho juntos, o começo de uma grande amizade. No caso, os amigos de Osorno, Juan Carlos e Andre, irmãos e agrônomos, que, assim como eu, decidiram conhecer a Carretera Austral e, tentar, chegar até Villa O’Higgins. (o que creio que não faremos, desta vez).
O motivo da impressão ? Como já frisei, a grande confusão que ocorre no sul do Chile, para onde nós estamos nos dirigindo e que envolve os protestos que começaram em Puerto Aysen e que, conforme noticiam aqui, estão subindo em direção ao norte. Há bloqueios de estrada. Faltam comida, água e tudo o mais. E para nós, os viajantes, o indispensável, “la benzina” (como chamam os chilenos a gasolina). Tudo indica, não podei seguir o caminho, como inicialmente planejado.
Assim que o dia 29 se resume a primeiro fazer navegação com o transbordador de Hornopirén a Leptepu (quatro horas). Depois 10km de Carretera até Fiordo Largo para, uma vez mais, subir a transbordador para mais meia hora de travessia até Caleta Gonzalo. Depois mais um trecho de carretera (mais ou menos 60km) até Chaitén. Caminhos lindos. Pouca chuva, felizmente.
MOTOCICLISTAS CUIDADO: 1) Com o rípio solto. Observo que sempre que chove são despejados mais alguns caminhões de rípio nos trechos mais críticos da carretera. Este rípio não é compactado. É espalhado por patrolas. ISTO É, VEJA, realmente, fica criada uma armadilha para nós que pilotamos. Fica muito fácil de cair. 2) Com os caminhões. Há um trafego bem grande de caminhões na carretera. Como eles são altos, diferentemente dos carros e das 4x4 que são conduzidas mais devagar, seus motoristas andam bem rápido. Avançam a pista contrária por vezes. Assim que nunca, nunca desprezem a prudência nas curvas. Pode-se fazer 100 curvas pela contramão. Basta uma para ir ao chão.
Seguimos...