Dia 24.12, De Cipolletti, Argentina até Temuco, Chile (Pelo Paso Icalma).
Gafanhotos gigantes, alheios a minha passagem, sugam da terra, com uma voracidade monótona e incansável um “néctar negro e viscoso”. Este “néctar” é prospectado das profundezas da terra. Creio que eles, os “gafanhotos gigantes”, estão proibidos de prestar atenção em qualquer um. Os homens poderosos, seus proprietários, devem ser bem exigentes. Digo isto porque ainda que os fotografe e até os filme, nada faz com que interrompam o trabalho que desenvolvem o qual segue em uma rotina que aborrece (vejam os gafanhotos gigantes” nas fotos e pequeno filme que fiz).
Eu não imaginava, ao amanhecer, o quanto de determinante seria este dia, nesta atual aventura. Saio de manhã e percebo uma pequena mudança na paisagem. Evidencia-se uma grande aridez na rica Província de Rio Negro. Local onde estou trafegando. E, ao mesmo tempo, sequências de postos de prospecção de petróleo (os “gafanhotos gigantes) sinalizam, ao contrário da aridez, a opulência, a riqueza da província em comento. Segue pela “carretera” a incômoda falta de combustível. Em algumas “estación de servicio” (postos de combustíveis) observo até sete quadras de “colas” (filas). É paradoxal. Falta “nafta” (gasolina) em uma província produtora de petróleo !!??
Está situação enfrentada está atrasando sobremaneira minhas andanças. Determino, neste instante, que vou sair da Argentina. A região é pródiga em “pasos” (locais de aduana). A grande maioria por estradas de terra. A terra aqui é o famoso, temido e adorado (por aventureiros) rípio. Estes caminhos, de regra, são os que mais evidenciam encantos, em termos de belezas naturais. Minha idéia era contornar, por rípio, a região dos Lagos, antes de me dirigir a Carretera Austral. La “molestia” (o aborrecimento) em razão dos problemas decorrentes da falta de combustível determinam minha decisão de sair, o mais rápido possível, em direção ao Chile. Resolvo que vou em direção ao Paso de Icalma, passo pelo Lago Aluminé e sigo em direção a Temuco-Cl. Uma vez que já estou no meio da tarde a decisão me parece acertada diante da proximidade deste “paso”.
Sigo aproveitando os belos trajetos das estradinhas do interior da argentina, aproveito a pilotagem que a XT660R permite que se desenvolva com um certo conforto. Sem desprezar o peso e o cuidado adicional pela utilização dos bauletos laterais e top case que carrego (explicito aos que não são afetos a motos que os bauletos e os top case são as minhas “malas de abs”, acomodadas na motocicleta).
Estou desfrutando da paisagem e da viagem.
Sou ultrapassado por uma grande camionete (eu acho) e penso ter levado um tiro.
Fico, por instantes, desorientado. Isto é suficiente para que eu saia da trilha relativamente segura, onde as pedras são/estão mais “batidas” e entre numa área de rípio fofo, alto, e grande. A desorientação pelo “tiro” (uma pedra em meu capacete) termina, poucos segundos, após a inevitável queda.
E ai tudo muda nesta aventura.
Sigo com o relato final no próximo post.
Por dever de amizade e respeito para com todos os meus queridos queridos/as amigos/as, e para a tranqüilidade de todos, explicito que, no momento em que estou postando este texto e fotos , vejo da janela de meu apartamento, em minha agradável terra missioneira, uma bela tarde de sol. É onde, no momento, me encontro. Adianto a todos que pilotei até a terrinha, sob as “bênçãos de Sepé”, com uma “fratura de arco costal esquerdo” (costela), um pé “meio amassado”, a bunda dolorida e o corpo ainda com efeitos da tensão do ocorrido. Já estive no meu médico. Já fui chamado de sortudo por ele. Fui orientado a não fazer o que fiz (pilotar nas condições indicadas, sem antes ter uma análise médica de fratura na costela que pode ser fatal e que explicitarei no próximo post).
Este “fato” (o estar em casa) o consegui após três dias de pilotagem (desde Temuco, Chile), com a valente “Ruivinha III” que, ao final, ficou com faróis e bolha quebrados, sem cobertura na central eletrônica, ECU (um escalpo parcial), e sem as carenagens frontais (todos “rotos” - quebrados). Mas, como sempre, valente e funcionando perfeitamente bem, demonstrou, uma vez mais, ser uma moto muito resistente. Observei-a totalmente alinhada (não houve nenhum choque frontal) e funcionando perfeitamente toda viagem. É uma bela moto. Terei saudade quando vendê-la.
Amigos, aqui em Santo Ângelo, no dia 31, brindarei a minha vida, a minha sorte (que espero nunca mude), a vida (e ao coração) de meus familiares e, em especial, para que eles – os seus corações - sejam sempre fortes kkk. Com a mesma vontade e intensidade, brindarei à saúde e à felicidade de todos vocês.
A todos nós um maravilhoso 2012.