Boas Vindas !

Há alguns anos venho percorrendo, de moto, alguns caminhos. Em especial em nossa Linda América. Aqui tenho pequenos relatos, fragmentos destes passeios. Eles foram feitos com o intuito de preservar um pouco do que eu vi. Um pouco do que eu vivi.

Agora, com poucos cliques, revejo caminhos... Selvas, desertos, gêiseres, caminhos patagônicos, geleiras, lagos, canyons, entranhas da terra... relembro de ares gelados de madrugadas altiplânicas...

De tudo o mais importante: revejo olhares e relembro atitudes de gentes que serão para sempre parte de minha vida. Ao viajante que passar por aqui espero que goste.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DIRECCIÓN SUR - DIA 24.12.2011 - CIPOLLETTI, ARG A TEMUCO, CL.

Dia 24.12, De Cipolletti, Argentina até Temuco, Chile (Pelo Paso Icalma).

Gafanhotos gigantes, alheios a minha passagem, sugam da terra, com uma voracidade monótona e incansável um “néctar negro e viscoso”. Este “néctar” é prospectado das profundezas da terra. Creio que eles, os “gafanhotos gigantes”, estão proibidos de prestar atenção em qualquer um. Os homens poderosos, seus proprietários, devem ser bem exigentes. Digo isto porque ainda que os fotografe e até os filme, nada faz com que interrompam o trabalho que desenvolvem o qual segue em uma rotina que aborrece (vejam os gafanhotos gigantes” nas fotos e pequeno filme que fiz).

Eu não imaginava, ao amanhecer, o quanto de determinante seria este dia, nesta atual aventura. Saio de manhã e percebo uma pequena mudança na paisagem. Evidencia-se uma grande aridez na rica Província de Rio Negro. Local onde estou trafegando. E, ao mesmo tempo, sequências de postos de prospecção de petróleo (os “gafanhotos gigantes) sinalizam, ao contrário da aridez, a opulência, a riqueza da província em comento. Segue pela “carretera” a incômoda falta de combustível. Em algumas “estación de servicio” (postos de combustíveis) observo até sete quadras de “colas” (filas). É paradoxal. Falta “nafta” (gasolina) em uma província produtora de petróleo !!??

Está situação enfrentada está atrasando sobremaneira minhas andanças. Determino, neste instante, que vou sair da Argentina. A região é pródiga em “pasos” (locais de aduana). A grande maioria por estradas de terra. A terra aqui é o famoso, temido e adorado (por aventureiros) rípio. Estes caminhos, de regra, são os que mais evidenciam encantos, em termos de belezas naturais. Minha idéia era contornar, por rípio, a região dos Lagos, antes de me dirigir a Carretera Austral. La “molestia” (o aborrecimento) em razão dos problemas decorrentes da falta de combustível determinam minha decisão de sair, o mais rápido possível, em direção ao Chile. Resolvo que vou em direção ao Paso de Icalma, passo pelo Lago Aluminé e sigo em direção a Temuco-Cl. Uma vez que já estou no meio da tarde a decisão me parece acertada diante da proximidade deste “paso”.

Sigo aproveitando os belos trajetos das estradinhas do interior da argentina, aproveito a pilotagem que a XT660R permite que se desenvolva com um certo conforto. Sem desprezar o peso e o cuidado adicional pela utilização dos bauletos laterais e top case que carrego (explicito aos que não são afetos a motos que os bauletos e os top case são as minhas “malas de abs”, acomodadas na motocicleta).

Estou desfrutando da paisagem e da viagem.

Sou ultrapassado por uma grande camionete (eu acho) e penso ter levado um tiro.

Fico, por instantes, desorientado. Isto é suficiente para que eu saia da trilha relativamente segura, onde as pedras são/estão mais “batidas” e entre numa área de rípio fofo, alto, e grande. A desorientação pelo “tiro” (uma pedra em meu capacete) termina, poucos segundos, após a inevitável queda.

E ai tudo muda nesta aventura.

Sigo com o relato final no próximo post.

Por dever de amizade e respeito para com todos os meus queridos queridos/as amigos/as, e para a tranqüilidade de todos, explicito que, no momento em que estou postando este texto e fotos , vejo da janela de meu apartamento, em minha agradável terra missioneira, uma bela tarde de sol. É onde, no momento, me encontro. Adianto a todos que pilotei até a terrinha, sob as “bênçãos de Sepé”, com uma “fratura de arco costal esquerdo” (costela), um pé “meio amassado”, a bunda dolorida e o corpo ainda com efeitos da tensão do ocorrido. Já estive no meu médico. Já fui chamado de sortudo por ele. Fui orientado a não fazer o que fiz (pilotar nas condições indicadas, sem antes ter uma análise médica de fratura na costela que pode ser fatal e que explicitarei no próximo post).

Este “fato” (o estar em casa) o consegui após três dias de pilotagem (desde Temuco, Chile), com a valente “Ruivinha III” que, ao final, ficou com faróis e bolha quebrados, sem cobertura na central eletrônica, ECU (um escalpo parcial), e sem as carenagens frontais (todos “rotos” - quebrados). Mas, como sempre, valente e funcionando perfeitamente bem, demonstrou, uma vez mais, ser uma moto muito resistente. Observei-a totalmente alinhada (não houve nenhum choque frontal) e funcionando perfeitamente toda viagem. É uma bela moto. Terei saudade quando vendê-la.

Amigos, aqui em Santo Ângelo, no dia 31, brindarei a minha vida, a minha sorte (que espero nunca mude), a vida (e ao coração) de meus familiares e, em especial, para que eles – os seus corações - sejam sempre fortes kkk. Com a mesma vontade e intensidade, brindarei à saúde e à felicidade de todos vocês.

A todos nós um maravilhoso 2012.














domingo, 25 de dezembro de 2011

DIRECCIÓN SUR - DIA 23.12.2011 - GRAL.ACHA - CIPOLLETTI

Dia 23.12, inicio o trajeto de Gral. Acha a Neuquén. Este foi um dia um dia de encontrar e fazer novos amigos.

No caminho, nada de novo. No caso, vejo a costumeira sucessão de retas e, concomitante sinalização advertindo, com razão, os perigos decorrentes da monotonia. No caminho de pouco mais de 400 Km, lembro, com freqüência de minha infância. O que me remete a ela são as recorrentes propriedades rurais com cataventos. Quebrando a monotonia dos caminhos, os problemas decorrentes do abastecimento. Esta falta de “nafta” na Argentina começa a incomodar. São freqüentes filas e mais filas nas “estación de servicio”. Ultrapassado estes pequenos inconvenientes, chego a Neuquén. Por indicação de Pocho, um amigo, deixo Neuquén (cidade petroleira, onde tudo é mais caro) e vou para a cidade de Cipolleti (grudada a Neuquén). Decisão acertada, a tarifação, em hotel inferior e sem “cochera” para a moto, é bem mais alta que o Hotel/Motel do Automóvel Club Argentino. Por um regalo da gerência, acabo, inclusive, pagando preço como sócio e não cliente normal. O bom do dia, além deste aspecto da hotelaria, é o fato de encontrar, rever, e fazer novos amigos. Em especial a Pocho e a amiga Adriana. Após “cenar” a tradicional parrilla e beber um pouco de vinho, na companhia dos amigos, recolho-me ao hotel para descansar.


















sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

DIRECCIÓN SUR - DIA 22.12.2011 - POZO DEL MOLLE/GRAL.ACHA

“Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”. Lembro a afirmativa do genial Cervantes, no decorrer do caminho de hoje, dia 22 de dezembro de 2011. Um trecho monótono, de pouco mais de 700 Km, entre Pozo del Molle e Gral. Acha.
Diante da lembrança, optei por apostar na dúvida e fazer minhas homenagens ao "além". No caso homenagem ao famoso “Gauchito Gil” e a não menos famosa, “Difunta Correa”.
Confesso que ainda não peguei ritmo de viagem (nesta viagem).
Ocorre que, de regra, procuro sair cedo das cidades onde me encontro para que, ao começar o entardecer, já possa, o mais cedo possível, ir buscando um hotel para descansar.
E sendo assim, pouco me importa se o destino ideado para o dia foi, ou não, atingido. A verdade é que não estou preocupado com isto (o sair cedo uma vez que o pilotar a noite definitivamente está fora de meus planos).
Assim que sai “ao raiar da madrugada” das 10h de Pozo del Molle, Província de Córdoba. Paguei míseros 140,00 pesos por um Hotel que valeria muito mais (Complejo Hotel del Centro), e enfrentei o caminho. (digo enfrentar porque o caminho é monótono) Inicialmente caminho truncado. Neste trajeto passo por Villa Maria e Rio Cuarto. Há, entre estas cidades (200Km) uma sucessão de pequenas cidades, pueblos, semáfaros. A viagem não flui. Ao chegar em Rio Cuarto deveria fazer a “circunvalación” (passar por fora). Acabei entrando na cidade o que me causou um pequeno atraso. Não tem problema uma vez que “no tengo prisa. No he dejado la leche en el fuego”, como ouvi alguns anos atrás no trem que me levava a Machu Picchu por uma senhora residente em Salta, ao comentar a demora do trem em chegar em Aguas Calientes (quatro horas de zigue-zague).
Depois de Rio Cuarto, uma vez que decidi ir em direção a Neuquén, me dirijo para Huinca Renancó e Santa Rosa. E a viagem passa a fluir. É que as retas ressurgem. Acabam as sucessões de pueblos e semáfaros. Praticamente 400 Km de retas de Rio Cuarto até Santa Rosa. De Santa Rosa até Gral. Acha faço mais 117 Km de caminhos igualmente de retas. O dia termina com um pouco mais de 700 Km percorridos.
A questão do “no creo en brujas, pero que las hay, las hay, tem mais a ver com o visto pelo caminho. Como sabem os que costumam trafegar em estradas argentinas, é recorrente as homenagens (santuários) ao “Gauchito Antonio Gil” e a Difunta Correa, reconhecidos e homenageados como santos sem reconhecimento oficial. O “ibope” do Gauchito Gil parece bem superior ao da “Difunta Correa. No entanto, nestes caminhos ora percorridos, aparece a devoção a “Difunta” com destaque. (Segue, no entanto, a devoção ao “santo popular”, el Gauchito Gil, com um número bem maior de santuários pelo caminho). 
A propósito, em síntese, a história/lenda da defunta (vejam as fotos dos santuários postadas), indica que ela teria, por amor, e por ser fiel ao seu marido e não aceitar a corte de um chefe militar por volta das décadas de 1840/50, em época de guerra civil argentina, fugido com seu filho e morrido de sede. Ao morrer pediu a Deus pela vida de seu filho. Foi encontrada três dias após a sua morte, período em que, no entanto, o cadáver teria permanecido amamentando o filho. Macabro, incrível? Sim! Digno de crédito ??? Sim e não. Depende do quanto de fé tem o pagão. Encontrada e constatado o fato (??) é tida como uma das santas populares mais famosas da argentina, a exemplo do “Gauchito Antonio Gil”. Assim que, na dúvida, os homenageei, ao pensar nestas figuras no momento em que passava pelos vários santuários existentes pelo caminho. Anoto, ainda que despiciendo, que as oferendas feitas a “difunta” são vasilhames contendo água. Aproveitei, já que estava com sede, numa das paradas, e num destes santuários para beber um pouco de uma água geladinha que foi deixada para a “Difunta” que não reclamou nada. (e nem quero ouvir reclamações ... tão cedo). Brincadeiras a parte, para quem tiver interesse pelas histórias, registro que há uma série de sítios na web, entre estes, anoto os links abaixo.
Desde Pozo del Molle, Província de Córdoba, até o fim do dia, em Gral. Acha, em La Pampa, percorri aproximadamente 700 Km. Até este trecho não observei problemas de abastecimento. Anoto, entretanto, que há relatos para frente (em direção a Província de Rio Negro, Cipolletti, Neuquén), onde pretendo estar amanhã, bem como em outras Províncias (caso de amigos motociclistas que tem passado recentemente em terras argentinas) que são recorrentes os problemas de abastecimento. Em especial em cidades pequenas. Diante deste fato, tenho “tanqueado” com uma margem de segurança maior.
PS1.A propósito, os preços da nafta oscilam entre 5,00 e 6,00 e algo de pesos, por litro.
PS2.Valeu a reclamação quanto ao calor. Depois da chuva de ontem a noite (pouca é verdade, mas que causaram alguns estragos em algumas cidades) o dia amanheceu quase perfeito para viajar. O "quase" fica por conta de alguns ventos laterais.