Boas Vindas !

Há alguns anos venho percorrendo, de moto, alguns caminhos. Em especial em nossa Linda América. Aqui tenho pequenos relatos, fragmentos destes passeios. Eles foram feitos com o intuito de preservar um pouco do que eu vi. Um pouco do que eu vivi.

Agora, com poucos cliques, revejo caminhos... Selvas, desertos, gêiseres, caminhos patagônicos, geleiras, lagos, canyons, entranhas da terra... relembro de ares gelados de madrugadas altiplânicas...

De tudo o mais importante: revejo olhares e relembro atitudes de gentes que serão para sempre parte de minha vida. Ao viajante que passar por aqui espero que goste.

domingo, 20 de novembro de 2011

EM DIREÇÃO A MACHU PICCHU

O começo deste “novo começo” de viagem...
Era fins de março, 2007, e como eu não gostaria de um dia ficar pensando “nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por esta maldita mania de viver no outono” resolvi, que era tempo. Era tempo de ir em busca de uma forma de beleza, de mistério e magia.
Ainda mais porque já vivíamos o outono no sul do Brasil...
Saí de Santo Ângelo, para mais trinta dias de aventuras.
Resolvido o destino final – Machu Picchu –, como quase sempre faço em viagens, deixei o “resto” dos caminhos “ao Deus dará”, pensando que “o acaso iria me proteger enquanto eu andasse distraído”. E enquanto eu estivesse de olhos bem atentos, diriam outros mais céticos e os que leram sobre o chão de fundamento" que adquiri (tombo) em uma das tentativas para ir a Machu Picchu)
Para nós que vivemos no sul do Brasil, as viagens para o destino definido, via terrestre, tem saída do país bastante facilitada. Temos várias opções para “fazer aduana”. Em alguns lugares, aos poucos, na medida em que as viagens e passeios vão se sucedendo, vamos ficando conhecidos de oficiais e servidores de aduanas e imigração.
Assim saí de Santo Ângelo, fiz os trâmites de aduana em Santo Tomé, na argentina. Como de costume, em viagens, saio bem cedo para fazer o máximo de quilometragem e evitar, assim, tanto quanto possível, pilotar a noite. O caminho a ser transposto, o Chaco argentino, já é meu conhecido. Costumam dizer, e tenho como uma verdade, que esta região é um local para resistentes. É praticamente impossível sair do Brasil, ir em direção ao noroeste argentino ou norte do Chile, sem passar por este rincão. Enfrenta-se aí no verão, não raras vezes, temperaturas de até 50 graus centígrados (e sensação térmica de 60). Entretanto, se o trajeto for feito no inverno, o frio encontrado pode ser inferior a zero grau. Realmente, é uma zona para resistentes. A vegetação é formada por pastagens e pequenos bosques.
No primeiro dia faço bastante quilometragem, aproximadamente, 840 km e chego na cidade de Presidente Roque Sáenz Peña (a noite). Uma janta leve e uma taça de vinho é a única coisa que me permito antes de cair no sono. No dia seguinte pretendo fazer mais uns 760 km até chegar até Salta, “La Linda”.
Ao amanhecer, faço os procedimentos de estilo de revisão da moto, lubrifico a corrente da moto e, tendo feito prévio abastecimento me dirijo a “Sagta” (em linguagem aymara, a mais bela) onde chego a noitinha e já faço contato com amigos os quais pretendia rever. Garanto assim uma cita para cenar. Estes encontros para mim são memoráveis. É interessante e eu não canso de viver estes momentos de reunião de motociclistas viajantes. Demonstração de amizade, respeito, consideração e, quase sempre, para quem não está viajando a presença constante da “invídia buena”, a inveja boa.
Após dois dias (muito pouco, quase nada para aproveitar a beleza de Salta, uma vez que discorrer dos atrativos da cidade e das proximidades mereceria um livro) me dirijo a Purmamarca. Como todo motociclista gosto de curvas. Assim opto pela RN 9 (aproximadamente 90 km pilotado em uma área cheia de curvas e com densa de vegetação, como dicen nustros hermanos camino de cornisa. Obs: é desaconselhável fazer este trajeto a noite. No caso, por segurança, optar pela RN 34).
Purmamarca é um pueblito com poucas centenas de habitantes (conforme informações obtidas não chega a ter 500 “almas”. Em compensação tem uma atração e tanto: El Cerro de Siete Colores, belíssima montanha onde se vê faixas coloridas, acomodadas umas sobre as outras. Trabalho de milhões de anos. Se pretende ir vê-lo chegue de manhã é quando os raios de sol fazem com que os tons ficam mais fortes e o Cerro se manifesta em todo o seu esplendor.
Passando por Purmamarca, Pozo Colorado, apreciando a belíssima Cuesta Del Lípan, (estrada em forma de serpente) vou em direção a Susques. Observe que a Cuesta Del Lípan está cheia de ziguezagues, e a altitude varia de 2.600m a 4.200m de altitude. Em sequência chego em Susques, “pórtico dos Andes.
Da última vez que passei por estes locais, Susques ainda era o último local de abastecimento antes de San Pedro de Atacama, 276 km a frente. Sai da Argentina e faço aduana no Passo Internacional de Jama. Não sem antes ter outro presente de viagem, as Salinas Grandes (uma lagoa antiga que após ter secado se transformou em uma extensão salgada de aproximadamente 1.500km2. Por fim, tendo ao lado por longo percurso o majestoso vulcão Licancabur, chego a San Pedro de Atacama.
Friso que por já ter estado na região em outra viagem, deixei de lado os belíssimos passeios e atrativos que encontramos em San Pedro de Atacama e seus arredores. Algumas fotos sobre este caminho estão no espaço postado sob o título "Nos Caminhos do Deserto do Atacama".
Então, após cruzar pequena parte do deserto atacamenho, me afastei um pouco do objetivo traçado e dei uma “corrida” (passando por Calama, Chile, onde pode-se visitar Chuquicamata, a maior mina de cobre a céu aberto, do mundo. Não consegui, visitá-la) até Tocopilla para saborear uns mariscos olhando o mar do pacífico. Tirante o curto trajeto de Calama a Tocopilla-CH, até aqui, nada de novo com relação a minha viagem anterior, a qual fiz enfocando o deserto do atacama. "Nada de novo ?" Escrevo isto e, incontinenti, já me dou conta da ausência total de veracidade no que afirmo. Sabemos que, sempre, os caminhos, o viajante, ou os dois, passado um segundo de nossas vidas, jamais serão os mesmos.
Bem, feita esta correção, passando por Iquique e Arica e ainda sentindo a brisa do pacífico direcionei minha moto, uma vez mais, a um caminho mais desértico.
Subo em direção a Putre (capital chilena de treking, segundo seus habitantes). Caminho muito lindo onde é constante a visão do belíssimo e impressionante Sajama – pico mais elevado da Bolívia, 6542 metros -, na região de Oruro (onde os nativos se vangloriam de realizar o melhor carnaval, fora do Brasil é claro).
Os tramites aduaneiros no sul do Chile, para entrar na Bolívia foram rápidos. E, em poucos minutos eu estava pilotando na Bolívia.
Rodar na Bolívia para mim é algo especialmente fascinante.
O altiplano boliviano me emociona.
É a velha história: razões que a própria razão desconhece...
Bem, não é bem assim. Há razões. Afinal de contas, no altiplano, encontramos mais de 100.000 km² que podemos percorrer quase sempre em uma altitude média de 3500m.
Encontra-se aí um clima muito interessante: seco, árido e desértico em direção ao sul onde no momento eu estava.
O fascinante altiplano atravessa o oeste do país em toda a sua extensão. Percorro o altiplano em direção a La Paz.
Antes de chegar em La Paz, conheci o mais importante sítio arqueológico da Bolívia, Tiwanaku – que fica a 3850 metros de altitude – e dista mais ou menos 70 km de La Paz. Ouvi muitos sustentarem que esta civilização é a mais importante precursora do império inca. Conversando com os habitantes e alguns professores, em Tiwanaku, os observei afirmando esta mesma idéia.
Asseveram que, na seqüência histórica, teria havido uma grande seca o que forçou movimentos migratórios para o restante do continente dando origem a cultura inca que, por fim, teria controlado em grande parte lado sul da américa pré-hispanica, englobando o território do Peru, Bolívia, Equador, parte norte do Chile, noroeste da Argentina e sul da Colômbia.
Assinalo aqui, informação obtida de amigos argentinos e confirmada em alguns contatos com outros amigos peruanos que os incas conquistaram a longa faixa de território acima destacado. Entretanto, sustentaram que eles não teriam conquistado os Quilmes, na Argentina (lembram da cerveja ?? Esta civilização quilme teria se recusado ao jugo dos “peruanos” (quéchuas). Entretanto, friso com ênfase, não tenho confirmação acadêmica desta assertiva.
E assim, de conversa em conversa, fui pilotando pelas delícias semi-desérticas do altiplano boliviano. Para contrastar depois fiquei uns três dias curtindo o “maravilhoso e organizado” trânsito – que é visto em vários enfoques nas fotos - em La Paz.
Em seqüência em direção ao Peru. Fiz aduana na “agradável” ciudad de Desaguadero. Aqui é importante paciência. Eta lugarzinho feio, poeirento. Este posto fronteiriço me fez recordar de Ciudad Del Leste, no Paraguai. A atividade aí é aquele comércio que não tem nada de agradável. Vimos por todos os lados aquele movimento de nossos irmãos lutando para sobreviver, comercializando o possível e o impossível. Mas, entretanto é o caminho ideal para quem vai conhecer o Lago Titicaca pelo lado peruano. Sigo, agora, em direção a Puno onde farei minha base para “passear pelo Lago Titicaca.
Seguimos ...
Acredito que todos que viajamos, em algum momento, sentimos senão idênticas parecidas sensações. Creio que revisitamos os meninos e meninas que um dia fomos e lembramos, com a saudade que o passar do tempo permite sentir, as aulas de geografia e história do ensino fundamental, onde vivemos as emoções, a magia, o encanto e a sedução, perceptíveis de forma diferenciada dado a personalidade e as características pessoais de cada um. E, agora, nos lugares muitas vezes falados, lembrando muitas vezes as salas de aula, colegas, professores, afastar o sonho não sem um pouco de nostalgia para flagranciar a beleza em toda a sua intensidade.
Desta forma, com as agradáveis lembranças povoando minha mente, como frisei antes, “naveguei” no famoso Lago Titicaca (lago navegável de maior altitude no mundo – 3820m, e o segundo em extensão em nossa américa, com nove mil quilômetros quadrados de superfície. Convivi um pouco com os famosos habitantes das ilhas flutuantes da comunidade “Los Urus”. Mi almuerzo junto a ellos fue trucha, zanahoria, lechuga, papas y arroz. De Puno, junto da pretinha (minha adorável companheira de viagem) fui em direção a Juliaca e Cuzco.
Ao passar por Juliaca (cidade entre Puno e Cuzco), como costuma acontecer amiúde em viagens por nossa América, uma tentativa de cobrar uma “multa”. Esta, alegadamente, seria de U$ 50,00. Tentativa que, como as demais pequenas dificuldades que temos pelo caminho, com uma paciente conversa, bom humor, sem perder nosso compromisso com a educação, sempre levamos a um bom termo. Esta cobrança teve como resultado no “pagamento” tão somente de dois adesivos dos quais levo para trocar com os amigos, em geral motociclistas e ciclistas que encontro pelo caminho. Este “pagamento”, me afirmou o policial na oportunidade, fariam a alegria de um colecionador: seu filho.
A propósito, entre estas cidades, lembro de “outro perigo. A advertência de um amigo nativo: não adira a quaisquer atividades esportivas (notadamente futebol) que envolvam aglomerações de pessoas moradores das duas cidades. Uma vez que estes eventos, ao final, poderá acabar em uma briga generalizada. Na dúvida eu não passei nem perto de estádio de futebol ... e me fui em direção a Cuzco.
Cuzco é uma cidade cosmopolita que eu vejo com ares de pequena. Em sua zona centrica é possível caminhar até algumas horas da noite com uma relativa segurança. Estive em Cuzco em julho e agosto. Os sotaques que ouvimos nas suas ruas são os mais diversos. Os seus atrativos são inumeráveis. Museus variados, de arte, inca, bairro de San Blas, Igreja e Convento de La Merced, Igreja de San Francisco, como frisei, são inúmeros os atrativos. É uma bela e acolhedora cidade.
Após alguns passeios em Cusco, por fim, me direciona a Machu Picchu, destino final elegido para esta viagem. Optei por fazer o caminho de trem até Aguas Calientes ou Ciudad Vieja. O caminho de trem, indicado por amigos, é realmente muito interessante. São quatro horas em ziguezague para subir até um ponto onde desembarcamos (os que não vão a trilha inca). Após desembarcar mais 40min de van, subindo até chegar no Santuário Ecológico de Machu Picchu.
Ainda que meu objetivo final fosse Machu Picchu, eu, na realidade queria olhar Machu Picchu de cima. Sim, de cima. Dos altos de Huayna Picchu !!
Huayna Picchu está localizada no norte da cidade de Machu Picchu e é a montanha mais alta do complexo arqueológico. Na linguagem quéchua significa “montanha jovem”. Como meu objetivo era subir Waynna Picchu entrei em M.Picchu e me dirigi a entrada de Huayna. Há restrição de hora e de quantidade de pessoas para subir até a “montanha jovem”. Tudo conspirou favoravelmente e eu estive em la cumbre de Huayna por três horas. Desci feliz. Havia feito o que desejara. Depois de duas tentativas frustradas, enfim eu visitava Machu Picchu. E, o melhor, como frisei: estivera admirando desde Huayna. Pretendo regressar um dia !!
Há a qualidade do belo.
Há a qualidade do mistério.
Há a qualidade do que é mágico.
O que são e como se explicam estas qualidades ?
Para mim, é algo inexplicável.
Pelo menos inexplicável se o pensar implica em unanimidade.
Porque eu a vejo tão bela ? Por quê tenho o meu referencial de beleza assim e não de outra forma !!??
Por quê há magia num certo aroma ? Num certo “perfume de mulher” ??
Por quê do mistério daquele olhar ??
Há muitas coisas que, realmente, não podemos explicar. Costuma-se dizer que mistério, beleza e magia são inexplicáveis. Que cada um vivencia do seu jeito.
Assim, também, respeitante as proporções, é com Machu Picchu.
Ela é bela, envolve mistério e uma magia que encanta a alma.
O que não se explica, neste caso, se admira !!
Espero que gostem das fotos.
Abração a todos.

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